Aquilo que me inspira, levo para casa.




23.11.11

A arte da guerra em exposição


Também em exibição no CCB se encontra a exposição “ A arte da guerra: propaganda da II guerra mundial”, uma mostra de dezenas de peças que serviram de propaganda, política no cenário da 2ª grande guerra tais como cartazes, panfletos, filmes e crachás oriundos de países que participaram na guerra.

Tenho uma relação com a guerra que pode ser apelidada de ambígua pois assenta numa relação amor/ ódio facilmente explicável pelas características inerentes àquela situação. A guerra pressupõe conflitos, desavenças, lutas, confrontos e todo um chorrilho de condições adversas que culminam, invariavelmente, em algum tipo de perda ou de separação e que, por isso, são causadoras de dor e de sofrimento. Mas como em tudo, há o reverso da moeda e as guerras têm-se apresentado como catalisadoras de processos evolutivos, não só de mentalidades mas também de investigação e de conhecimento científico, além de serem reservatórios de emoções humanas dificilmente igualáveis por qualquer outro acontecimento. São, portanto, uma fonte de inspiração para o estudo do ser humano nomeadamente dos seus comportamentos e do seu mundo psíquico e isso, claro, fascina-me.

A propaganda política aproxima, por outro lado, dois aspectos que eu aprecio especialmente, a utilização da psicologia, nomeadamente ao nível das técnicas de persuasão, aliada a um espírito artístico onde ambos contribuem para tornar os panfletos de propaganda verdadeiras obras de arte, nutridas de uma estética ímpar que procura mobilizar e apelar ao sentido patriótico e a todo um reportório de sentimentos.
























21.11.11

Vik Muniz ou mundo pouco convencional

Uma tarde chuvosa de sábado é sempre um forte argumento para um programa dentro de portas e o Centro Cultural de Belém continua a ser um dos espaços eleitos para insuflar a inspiração.


A obra de Vik Muniz é o tema de uma das exposições temporárias em cartaz e eu fui visitá-la para constatar aquilo que já é sobejamente partilhado por muitos, a de que Muniz é um artista plástico que aplica o conceito de reutilização melhor do que ninguém.


O mundo surge reinterpretado e obras de outros artistas aparecem recriadas com uma originalidade que lhes é conferida pela utilização de materiais inusitados como geleia, manteiga de amendoim, arames, linhas, poeira, lixo. O resultado é a visão do todo afastada dos pormenores da sua visão no particular onde o que parece não é e o que é não se imaginava que pudesse parecer. Parece confuso mas a descrição de um imaginário afasta toda a ordem de ideias que se possa dar e onde somente é válido ir ver.








8.11.11

Romãs



Ainda me lembro do sabor doce daquelas romãs. Estávamos na década de 80 e as tardes passadas na casa da minha avó eram tardes de alegria garantida. Entre piões, bicicletas e livros, o tempo media-se por correrias e arranhões nos joelhos. Por essa altura todos os mimos eram embrulhados e guardados em gavetas para que eu os descobrisse quando lá fosse. Comer romãs era um dos mais bem reservados e ansiados.


Após uma tarde de brincadeiras que tinham como cenário de fundo um quintal com árvores e animais, esperava por mim na mesa da cozinha, uma tigela esmaltada de um branco desmaiado pelo tempo onde sobressaía o vermelho escarlate das bagas de uma romã que se envolviam nas carícias de grãos de açúcar. Primeiro comiam os meus olhos. Depois de saciados, estes davam a vez ao paladar num acto de cavalheirismo de sentidos. Sentada numa cadeira que nas minhas recordações é lembrada como castanha, sentia na minha boca o doce dos grãos brancos a serem distraídos com o ácido da fruta e a cada colherada era me devolvido o prazer de trincar cada baga e sentir o aveludado da sua textura. A tigela era esvaziada a um ritmo lento enquanto eu observava as mãos da minha avó a descascarem novas romãs que saciariam outros apetites e que me despertavam a inveja quando começava a entrever o fundo da minha tigela.


Pouco tenho comido romãs desde esses tempos de infância, talvez porque a preguiça de as descascar me roube a vontade de as comer ou talvez porque me apeteça conservar o seu sabor somente na minha memória, intacto, sem falsificações e fiel a uma imagem de prazer hedonista.