Aquilo que me inspira, levo para casa.




4.3.12

Fotos e grafias

Pousada nos lençóis, deitada numa cama de alvura, a sua função vê-se temporariamente interrompida para um descanso merecido. A saber registar o mundo através das suas lentes, fica-se com a impressão de que este se detém para acompanhar o cansaço da objectiva. O mundo parece andar ao ritmo dos flashes que se disparam para acompanhar a sua cadência. O silêncio e a quietude parecem atingi-lo quando os olhos se fecham e olvidam o seu andamento.

É fácil olhar o mundo pelas próprias retinas, para a pouco e pouco nos irmos esquecendo do que foi observado até ficarmos somente com uma névoa mental que esconde os esboços daquela que já foi uma imagem nítida. O difícil é afastar o efeito da erosão do tempo nos contornos dessa lembrança. Por isso, aquela que na foto descansa numa cama de alvura, faz aquilo que a memória não nos permite, conservando os pormenores nos locais, as particularidades nos momentos, transportando o antigo para o momento actual sabendo preservar o tempo do efeito de todas as rugas.

Olho para ela e invejo-a pela capacidade de retratar o todo sem mácula, numa transposição directa daquilo que existe para o discurso inteligível dos sentidos. Ela descansa e eu anseio pelo fim da sua inércia porque ela é os meus olhos e o mundo precisa deles para continuar a andar.

2.3.12

Do meu silêncio

Há tanta gente a pôr palavras bonitas no mundo que as minhas se parecem recolher na sua misantropia. Não que gostem em demasia de palco, mas afligem-se com a eloquência alheia, singrando numa viagem emudecida.

Do Porto e de outros amores

Sempre que vou ao Porto, olhou-o, fotografo-o, vivo-o e trago-o comigo guardado na memória e em películas digitais que eternalizam aquilo que a memória pode, aos poucos, ir perdendo.