Aquilo que me inspira, levo para casa.




31.1.13

A viagem à India de Gonçalo M. Tavares



Escrito de uma forma invulgar, este livro mostra com exuberância todas as qualidades literárias do Gonçalo M. Tavares. Não sou crítica literária, nem tenho qualquer pretensão em elaborar comentários intelectuais que posicionem a obra deste escritor. Sou simplesmente uma leitora assídua, que já leu alguma coisinha ao longo dos anos o que faz de mim alguém capaz de ter uma ideia do que é um livro bom ou mau. Parece-me a mim, e este parecer não será uma mera suposição mas uma certeza validada pelos verdadeiros críticos literários, que o Gonçalo M. Tavares ainda vai dar muitas cartas.

Este não é um livro fácil de se ler. Aliás, à primeira leitura parece necessitar de uma concentração extra para ser lido. No entanto, depois de nos habituarmos à escrita epopeica, ao revivalismo camoniano, aos capítulos que dão lugar a cantos, aos parágrafos que não são mais do que estrofes, deixamo-nos contagiar pela vida do personagem Bloom e nessa altura as linhas sucedem-se sem que demos conta que o número de estrofes lidas nos encaminham para o seu final.

Sempre que leio os livros do Gonçalo tenho a sensação de que o cérebro dele fervilha e que é constantemente abordado por um incontornável número de ideias. A sucessão de pensamentos e de ideias, e a riqueza com que constrói as personagens (basta conhecer O Bairro para se perceber do que falo) fazem dele um génio da escrita. Mais que tudo fico muito feliz por este escritor sublime ser português, da minha geração e por saber elevar, tão bem, a qualidade da literatura portuguesa. Escreve-se muito bem em Portugal e a herança do Nobel estará porventura garantida.      

28.1.13

Viagens


Este texto já era para ter sido passado para as teclas do computador há quase 30 dias. Não passou de hoje este rotineiro atrasar de transferir ideias para letras que sejam legíveis por outros.

Iniciei o ano com uma grande vontade de viajar. Talvez porque a crise que tanto preenche os assuntos do quotidiano nos aumente esta vontade de evasão até ao limite do experienciado. Talvez porque viajar me ocupe o espírito como poucas outras tarefas o fazem. Talvez porque seja curiosa demais para apenas ver no papel ou no ecrã aquilo que também posso tocar e cheirar. A verdade é que tenho uma vontade imensa de ver, conhecer, bisbilhotar, surpreender.

Viajar é assim como que uma terapia hedonista que ajuda a calibrar os níveis internos de satisfação. Tem efeitos positivos enquanto está a ser realizada e estes sentem-se mesmo depois de terminada, mesmo quando somente nos restam memórias e momentos registados na imagem.

Façamos pois uma ode às viagens, ao mundo para além da fronteira física e pessoal. Aos outros que habitam para lá do que é nosso, aos espaços que trespassam os pisos que nos são familiares. Façamos das viagens um encontro com o que há de melhor, em nós mesmos e em tudo o que é contemporâneo da nossa existência. Façamos uma ode a ver o que vale a pena ser visto, a contar o que vale a pena ser gasto em palavras.

Disparar a alma como um projéctil mas fluir como uma ave que dança no vento, eis a metáfora clássica que tão bem explica a viagem.    






24.1.13


Os dias andam murchos. A chuva é um bem precioso mas esgota a vivacidade dos dias. Tem chovido tanto que a alegria dos dias já está seca. E terra molhada em alma seca oferece aos dias um interesse diminuto que eu, por osmose, assimilo. Se tivesse de referendar quais os momentos de chuva escolheria as noites mas tendo de ser os dias não permitiria mais de dois a ver chorar o céu. 

10.1.13

Transversalidade


Tenho 15 ou 16 anos e estou sentada no chão da sala. Por baixo de mim sinto a alcatifa. Ao meu lado espalham-se discos de 45 e 33 rotações prontos a serem escolhidos para o toque da agulha.  Nos meus ouvidos pousam uns headphones que vibram ao som da música.  O meu pai lê o jornal sentado na sua cadeira. Provavelmente conseguirá ouvir algum resquício do som que foge em decibéis elevados mas ignora-me a mim e aos esgares que faço enquanto mentalmente soletro a letra da música.  Oiço as faixas que mais gosto em modo repeat sem nunca cansar os meus receptores auditivos. Imagino-me nos mais diferentes ambientes a dançar aquele mesmo som e projecto toda uma série de situações ficcionadas. Neste momento, sou eu e a música que enchemos o meu mundo. E bastamos. Nada mais importa porque o resto é um mero excedente.

Hoje, duas décadas distam da recordação narrada. Já não tenho discos de vinyl, o gira-discos repousa em descanso na garagem e há muito que não piso alcatifa. Do meu pai, sentado na sua cadeira, somente guardo lembranças. Mas a música ainda me acompanha. O seu efeito simbiótico permanece. Os headphones continuam a merecer destaque na minha vocação hedonista.

Mudam-se os tempos mas a essência fica.

9.1.13

O segredo de José Luís Peixoto



Já não constitui um segredo para mim o conteúdo do mais recente livro de José Luís Peixoto (JLP). Escrito num estilo mais leve que o seu registo habitual, o livro narra a passagem do seu autor pela Coreia do Norte, o país mais fechado do mundo que, por isso, encerra consigo todo um sentimento misto de curiosidade e antipatia que em muito contribui para a sua cotação de fascínio. Habituados que estamos a ter notícias da Coreia do Norte provindas essencialmente da comunicação social, que ainda não há muito tempo nos encheu de imagens relacionadas com a morte do seu “Querido Líder”, ler histórias contadas, na primeira pessoa, por quem pisou aquele território, embora o próprio admita que a realidade que lhe mostraram foi tingida de algum fingimento, é motivo para uma leitura cheia de interesse.

O tema é, pois, uma garantia de sucesso. À descrição da viagem, o autor soube juntar uma, bem doseada, porção de percepções pessoais que amenizam a dureza da realidade descrita e nos fazem rir de pormenores que só o ser humano consegue protagonizar.

Mas eu estou certa que a maior contribuição desta viagem, para a escrita do JLP, não ficou, de todo, restringida a este livro. Este será porventura uma pequena demonstração da riqueza interior que esta experiência lhe terá dado. Descreveu-o demasiado restringido aos factos, demasiado próximo ao tempo em que tudo aconteceu.  O distanciamento mental necessário para uma abordagem mais introspectiva estará, muito provavelmente, a fermentar. Aguardo, por isso, com expectativa, embora o fizesse de qualquer forma, as suas próximas escritas, estando certa que nelas conseguirei vislumbrar, de forma mais ou menos exposta, as influências despoletadas por esta viagem que apesar de no destino ter o país mais fechado do mundo, com certeza lhe terá aberto muitas portas do seu mundo interior.

7.1.13

Viver numa bolha

Há pessoas que vivem em bolhas. Fechadas, herméticas, asfixiantes. O único ar que lá entra é aquele que lhes permite ter os pulmões incólumes. Tudo o resto é irrespirável, invisível, indiferente.

Causa-me alguma impressão esta tendência de algumas pessoas em desviar o olhar daquilo que lhes é alheio, de proclamarem a sua indiferença perante o mundo e a vida de terceiros desde que dentro do seu casulo exista o oxigénio que lhes permita viver.

Numa altura em que um a um somos chamados à realidade do desemprego, da desigualdade, da pobreza, de toda a espécie de dificuldades mais ou menos requintadas, ainda há quem somente se aperceba das maleitas do mundo, quando o seu nome é ouvido, ainda que os de muitos outros já tenham sido chamados antes. As situações só se agudizam, só são apelidadas de urgentes, só incitam à acção quando os atingem, quando sentem que a bolha vacila e o ar começa a evaporar-se por uma qualquer fresta que entretanto se instalou.

Não sei como lidar com pessoas assim. Fico sem jeito tamanha a incredulidade que me atinge, incapaz de convencer as minhas próprias palavras a chamar a atenção de algo tão óbvio, sem saber como fazer para controlar a minha vontade de lhes mostrar que o egoísmo tem limites.




Como não podia deixar de ser

...o primeiro post do ano merece um traçar de objectivos para o recém chegado vinte treze. Nada de grandes metas, somente anotações de pequenas coisas às quais atribuo alguma graça e que, de alguma forma, podem contribuir para o meu bem-estar. Na sua escolha não estiveram critérios de sustentabilidade, razoabilidade ou outras desses (boring!) aspectos que norteiam, usualmente, as escolhas ponderadas. Tão somente dei ouvidos ao meu gostar, ao meu click interior, à facilidade de ver aparecer o meu sorriso.
Este é um post work in progress.

# 1- Não deixar que falte granola na minha despensa. 


# 2- Fotografar o meu urso de peluche- ou outros objectos amados- 

Ideia inspirada daqui.

# 3- Deixar-me inspirar por coisas bonitas


Como o são, as fotos de Bertil Nilsson.


# 4- Documentar o meu mundo, para não tropeçar no esquecimento



# 5- Ler. Ler. Ler. Escrever. Escrever. Escrever