Aquilo que me inspira, levo para casa.




11.3.15

Branco

O branco da atmosfera em aliança com o branco dos dias que se encontram por preencher. Sinto-me a condizer em espaços com muita luz, onde o reflexo da alvura revela que qualquer tom se demarcará da monocromia que se impõe. Como se, a esse espaço, pudesse ser atribuída qualquer cor em consonância com o estado que ocupamos no momento. O branco faz-me ter o sentido do preenchimento, é como se me esvaziasse para voltar a ocupar com aquilo que me der significado. O minimalismo do branco é como se me desse um mar de possibilidades, um infinito de conjugações que na minha posse me fazem poder dar ao mundo as cores que eu quiser. E como preciso de ter certezas quanto às cores com que devo pintar algumas paredes da minha vida, gosto de passear pelo branco em forma de materialidade. E gosto de o fotografar para poder sentir que mesmo quando as cores se esbatem o branco permanece, e existindo espaços em branco tudo se mantém como possível.









2.3.15

Entre o campo e a casa, o Alentejo


Entre a casa que é de campo e o campo que ronda a casa, foram dias cheios de horas bucólicas e de uma serenidade incapaz de ser conseguida em qualquer outro lugar. Para quem como eu gosta de objectivos e jamais se consegue alhear totalmente de planos, ainda que estes se pareçam com meros esquissos, nunca é possível fazer tudo aquilo que se quer mesmo quando as horas se parecem encostar e os dias duram mais um bocadinho do que os outros. Fugir à cidade é um acto simples porém com resultados que fogem ao óbvio e que se sustentam num alterar da percepção do mundo. Quando faço esta trajectória cidade-campo é que me apercebo da minha dependência e da consequente necessidade de autonomia em relação aos estímulos urbanos. Sinto que processo as coisas num sistema de engrenagem mais lento, e que também os pensamentos se parecem encostar uns aos outros num arrumo diferente. Preciso tanto disto como de dias agitados e de horas cheias de tudo menos de tempo. Preciso da vida em toda a sua largura e das emoções positivas que consiga retirar em todo este viver.

Gosto do Alentejo como se fosse a minha casa. A genuinidade e a simplicidade de tudo aquilo que o compõe fazem-no cheio de uma graça sem vaidade. Ali está ele, ao seu ritmo, pronto para ofertar e para receber, monocromático, minimalista de imagens mas cheio de uma riqueza em forma de gente, de gastronomia, e de dizeres. Depois há aqueles sítios que nos abrigam de braços abertos, nos aconchegam, nos devolvem ao mundo terreno, nos oferecem sons de playlists, impecavelmente escolhidas, entre-cortadas com miares de gatos e chilreares de pássaros que se alternam na voz da natureza. Sítios cheios de mundo em contraste com janelas de onde saem campos que se ornamentam de oliveiras. E eu gosto disto nos meus dias, desta contradição que em mim assume a forma de coerência. 













A casa das fotografias é a Villa Extramuros situada em Arraiolos.