Aquilo que me inspira, levo para casa.




7.9.16

Post com música dentro

One more night
One more night till the morning
One more night
One more night till the day 

A música liberta-se dentro do carro. Felizmente ocupa mais espaço que nós e as malas que levamos. Cantamo-la juntos e sabemo-nos felizes. O etéreo deveria sempre ocupar o espaço que sobra.

Take me out of myself again
(Help me)
Help me lose control
(Show me)
Show me love, show me happiness
(Love me)
I can't do this on my own

Estes nossos dias tiveram som, cor, cheiros e tantos doces momentos de deslumbramento que facilmente fazem molduras. Tenho a cabeça cheia de quadros pintados por nós em comunhão com todos os sítios que visitámos e com os quais nos admirámos. Quando a admiração é conjunta é tão maior o prazer de a receber e de a sentir. Passa de algo que é um estado, com finitude, a algo que nos pertence, a fazer parte das paredes eternas da nossa história. 

Walk with me, show me pure affection
Walk with me, show me the right direction

Soltam-se notas ao redor dos olhos que procuram. O sol serve de bússola, o mar de desígnio. Guardamos a expectativa nos dedos que se entrelaçam enquanto descemos encostas e arribas. Decisões tomadas ao sabor da liberdade que reveste a vontade. O amor expande-se como um balão e mantém o seu voo pelas alturas.

In my heart, in this cold heart
I can live or I can die
I believe if I just try
You believe in you and I

Os tons dos dias são claros porque a bruma tapa com um manto creme as cores originais que parecem desmaiadas de alegria. Um tempo ameno provoca um querer forte por agasalhos.  A pele precisa de aconchego para o sol e para a fina água que percorre o ar. São ainda mais bonitos os elementos da natureza que extravasam o seu lugar. O sol sentido no calor da areia, o mar que oferece um colar de gotas à face.

 Help me to know
Where I can go

Nós e o tanto que guardamos. Um legado de dias felizes no nosso repertório de memórias.



















16.8.16

Dos ferries e de outras recordações...



-          Uma
-          Duas
-          Três
-          Quatro
Era assim que eu passava as travessias do Rio Sado, entre Setúbal e Tróia, a bordo dos ferry boats - a contar o número de alforrecas que nadavam na água enquanto o meu pai me agarrava na camisola não fosse algum impulso mais forte me fazer resvalar para fora do barco. Eram dezenas as que nadavam de forma graciosa no mar ora verde ora azul, numa espécie de salpicos transparentes que pareciam concorrer com a espuma das ondas.

Perdi a conta das vezes que pisei o chão dos ferry boats durante a minha infância e adolescência. Eram eles que nos faziam chegar à praia onde nos esperavam dias repletos de mergulhos e de sol na pele. A travessia para o paraíso era feita dentro destes barcos de linhas rectas, de paredes ferrugentas e com portas que pareciam waffles. A contrastar com o seu aspecto rústico, eram entoadas gargalhadas sem idade enquanto os cabelos dançavam ao vento e as pessoas conversavam entre os carros que, juntinhos, não deixavam que se visse a cor do chão.  Naquela altura, em que o Expresso e o Rápido eram os reis do mar, a Tróia era vista como uma extensão da cidade que ocupa a margem Norte do rio Sado. Apresentava-se pacata, esquiva mas com um areal exuberante e cheia de recantos que guardavam histórias Foi lá que aprendi a nadar e a ter predilecção por praias de dunas de areia branca. Os aromas da minha infância têm a forma das plantas que nos davam as boas vindas quando chegávamos à praia e que teimavam em permanecer onde a areia escaldava.  

Hoje em dia a Tróia emancipou-se, tornou-se vaidosa e ganhou em qualidade e em infra-estruturas aquilo que, para muitos, perdeu em carisma e em identidade. Contínua bonita e orgulhosa dos seus grãos de areia que beijam o mar límpido numa comunhão que assombra. Os antigos edifícios deram lugar a novos e renovados espaços e os velhinhos ferries foram substituídos por barcos modernos, mais confortáveis e que enchem de um verde vivo a monocromia do rio.

Os antigos barcos jazem agora abandonados. Vê-los assim, com tão pouca dignidade, faz-me sentir uma espécie de mágoa, como se assistisse à destruição lenta do passado. Os barcos que albergaram tantas alegrias e risos estão, agora, à mercê da erosão, daquilo que o tempo lhes quiser dar. São, por estes dias, a metáfora de que tudo o que não tem uso pode ser substituído, abandonado e esquecido. Contudo, perto deles, ainda consigo ouvir os sons da praia, ainda me vejo de novo pequenina a olhar o mar com o meu pai por perto, ainda sinto os atropelos das recordações que os colocam em retratos do meu imaginário.   

São pedaços de ferro, é certo, mas encerram histórias e um legado de quem os conheceu a desbravar marés. Gostaria infinitamente mais de os saber a ter outras utilizações ou a ser demolidos sem afronta aquilo que foram ou ao ambiente.

21.7.16

Autenticidade a sul




Um dos atributos mais interessantes de qualquer local é a sua autenticidade. Felizmente que em Portugal ainda existem lugares assim, alguns mesmo no âmago de circuitos marcadamente turísticos, onde ainda prevalece o verdadeiro valor da região e das pessoas que lhe pertencem. São autênticos oásis no meio da aridez oferecida por um turismo pouco cuidado e desinteressante.

O Algarve tem uma beleza natural incomparável porém os territórios urbanos nem sempre têm sabido fazer justiça a esta perfeição nativa, oferecendo em excesso uma desarmonia visual e um serviço de fraca qualidade que em nada beneficia as praias, as serras e a gastronomia desta região costeira.

Contudo, têm surgido ultimamente formatos de turismo de maior proximidade que vêm contrariar esta tendência e, em grande medida, ajudar a enaltecer a região. O cuidado em oferecer sítios bonitos, de atmosferas depuradas e pensadas ao pormenor, onde cada detalhe conta uma história, junta-se ao propósito de promover aquilo que é local recorrendo a produtos da região, a trabalhos elaborados por artesãos locais, transparecendo o orgulho daquilo que é oriundo da terra.

Conheci recentemente o projecto Casa Modesta na zona de Olhão e adorei. Não só me senti em casa desde o primeiro instante, como tive a oportunidade de conhecer melhor a região circundante da Ria Formosa em particular a Fuseta e Olhão. Estes locais conservam o Algarve genuíno nas suas ruas, mercados e gentes. Há pronúncia algarvia em cada esquina. Há pescadores e senhoras que acenam das portas das suas casas. Há pequenas embarcações a dar colorido ao mar. Há um aroma típico mistura de sal e de flora da zona. Sente-se a portugalidade, o legado de uma cultura de pesca e de mar.

Quanto à Casa Modesta, é fácil dirigir-lhe elogios. A simplicidade arquitectónica de traça algarvia, contrasta com a riqueza dos detalhes desta casa de família que tão bem sabe receber. Acordar ao som dos elementos puros da natureza, olhar à volta e encontrar um horizonte de campo e de mar, sentir aconchego, dedicação e esmero no serviço, são alguns exemplos do que esta casa portuguesa tem para oferecer. A mesa comunitária, onde são servidas as refeições, demonstra bem o contraste que aqui existe com o turismo impessoal. Nesta mesa, onde se provam as mais deliciosas iguarias caseiras, elaborados com produtos frescos e da região, a serenidade tem lugar reservado e de tal forma sobeja que é possível trazê-la nas algibeiras juntamente com os grãos de areia.

Fica um pequeno arquivo de imagens a ilustrar as palavras.

Casa Modesta: Quartos com pátios individuais

Casa Modesta: Pátio Comum

Casa Modesta: Detalhes 

Casa Modesta: Pormenor de decoração da sala de refeições

Casa Modesta: vista para os pátios individuais

Casa Modesta: detalhe de decoração

Casa Modesta: zona lounge

Casa Modesta: zona lounge

Casa Modesta: Escadas de acesso aos quartos

Parque natural da Ria Formosa

Parque natural da Ria Formosa


Praia da Fuseta

Fuseta

Fuseta

Olhão

Viagem entre Olhão e Ilha da Armona

Ilha da Armona

Ilha da Armona

19.7.16

Retratos dos últimos 200 dias

Para repor a falta de palavras por estas bandas, ficam retratos aleatórios do muito que tenho experienciado ao longo dos 200 dias que já pertencem a 2016. Entre o cá e o lá são imagens que evocam gotas à solta de um mar de acontecimentos.