A vida é feita de histórias, milhares delas reunidas num qualquer lugar que não tem nome nem espaço mas que constitui o reservatório de tudo o que vivemos. As nossas histórias são feitas de material mnésico partilhado sob a forma do retrato com que queremos emoldurar a nossa história vivida. Mas as nossas histórias também estão repletas de factos que nunca mais nos lembraremos porque a memória os tratou de colocar na reciclagem ou porque as nossas sinapses trataram de efectuar uma triagem criteriosa a tudo o que foi classificado como desinteressante. Ficam ainda as histórias que desconhecemos, nas quais fomos personagens de um conteúdo ao qual ficámos alheios podendo, contudo, a sua importância ter exercido um impacto, relevante, porém desconhecido, em nós.
Esta multidisciplinaridade de histórias torna, por um lado, a percepção de que é pobre o conhecimento que detemos sobre nós, mas ao mesmo tempo mostra-nos quão ricos podemos ser porque absortos na intrincada malha das realidades em que nos encontramos envolvidos e nas potenciais escolhas que nos são dadas para dar conta desse novelo.
Façamos de todos nós coleccionadores de histórias, contando-as com o sentido que nos couber na vontade e deixando-as serem ouvidas com a possibilidade perceptiva de quem nos escuta. O resultado desse processo será um acto de comunicação que poderá influenciar o auto-conceito mas também ditará a forma de conceitos que os outros reunirão sobre nós.
Por isso digo, que às minhas histórias lhes ditarei um destino, o de guardá-las comigo para que possa fazer delas o meu legado, mesmo que possam existir filtros e véus de tule de imaginação que mascarem o que foi a realidade. A minha história é aquilo em que acredito que me lembro e se esse lembrar desrespeitar algumas evidências, não o tentarei corrigir ou então corro o risco da história deixar de ser a minha.