No outro dia tomei o pequeno-almoço na esplanada de um café perto
da minha casa. No pouco tempo em que ocupei a cadeira, enquanto sorvia a meia
de leite e engolia o pão de mistura fina com queijo, deu para ouvir as
conversas lançadas nas mesas do lado. Já houve tempo em que falar do tempo, dos
filhos, e de outras trivialidades da vida quotidiana, ocupavam as manchetes das
conversas de café. Agora os temas são outros, e sempre os mesmos. A crise, a
precariedade no emprego, a falta deste. Sempre, sem tirar nem pôr, os mesmos
argumentos, os mesmíssimos acontecimentos, as igualíssimas preocupações, apesar
dos diferentes interlocutores. Já não há originalidade nas conversas de café
quando o que nos une é um sentimento generalizado de preocupação. Os salários
são debatidos à mesa, as inequidades são partilhadas enquanto se bebe a bica, o
desemprego de fulano e beltrano é tema para especulações e teorias. Mudam-se os
corpos e as conversas ficam. Tornámo-nos um povo de uma só conversa e abandonámos
o ecletismo de temas. Tudo isto é triste e assustador. A banalização das
conversas de café é um excelente indicador do estado da nação, um barómetro da
saúde da sociedade. Esperemos que haja cura.
Sem comentários:
Enviar um comentário