Não sei há quantos anos foi. Mas tenho
a certeza que foi na Feira do Livro onde, sem excepção, compro sempre algo de
um escritor português contemporâneo. A edição recente da Máquina de Fazer Espanhóis fez com que o nome de valter hugo mãe me
estivesse na memória apesar desta, por essa altura, estar ainda em branco
quanto a qualquer produto da obra desse autor. Na feira aconselharam-me a
começar pelo O Remorso de Baltazar
Serapião e eu, obedientemente, o fiz. Na minha lista de espera de leituras
a vez do Baltazar Serapião chegou com uma viagem que fiz a Porto Santo, local
propício para uma leitura dedicada. No avião de regresso já estava, obviamente,
lido de página a página. Na altura escrevi no meu facebook o seguinte comentário
reactivo:
“E porque uns dias de férias não o são se não se saciar a leitura, não
posso deixar de falar do livro que acabei de ler. Primeiro estranha-se a
linguagem, demasiado arcaica e livre de regras, depois apaixonamo-nos por ela e
o livro torna-se capaz de ser lido de uma
assentada. No fim são demasiadas as emoções que nos assaltam, tantas quanto as
possíveis sobre um tema que, de tão antigo, nunca perde a actualidade. A
violência sobre as mulheres, o ciúme patológico, o menosprezo pelos valores maiores.
valter hugo mãe conta numa metáfora como a idade media ainda habita no
pensamento humano nos dias de hoje. Tão brutal quanto viciante, este livro
deixou a porta aberta ao interesse em ler outros livros deste autor!
RECOMENDADO!”
E a vinculação começou aí.
Curiosidade instalada, outros tantos livros se seguiram, os antigos (Novo Reino, a Máquina de Fazer Espanhóis, a Mãe) e os entretanto lançados (Filho de Mil Homens). Obviamente que mal
avistei, num escaparate, o último dos seus lançamentos, o novíssimo Desumanização, sucumbi no imediato ao
impulso da sua compra e foi na sua posse que no passado Domingo assisti à sua cerimónia
de apresentação no Teatro Maria Matos, em Lisboa. Com uma sala cheia, de gente
interessada, com banda sonora de Rodrigo Leão, foi um prazer ouvir o Valter
Hugo Mãe falar de si, naquele seu tom genuíno e naif mas sobejamente inteligente para falar de tudo sem opressões
ou filtros, numa ode à espontaneidade, e a saber contornar a sua assumida timidez
ora com humor ora tocando assuntos sérios e caros na actualidade nacional, sem
esquecer a profundidade poética da sua obra, a qualidade intrínseca de todas as
palavras que são impressas. Saí de lá com um
autógrafo, visivelmente feliz, com tanta vontade de combinar um café para dois
(ou três, ou quatro…) dedos de conversa. Será pouco provável mas para já vou
conhecê-lo mais um pouco quando ler Desumanização.
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