Acabou o Verão e geralmente este é
o momento do ano em que a passagem de estação nos causa maior impacto, apesar
do Outono ser também prezado por muitos. O Inverno é a estação menos desejada e
traduzível por dias pequenos, chuvosos, de cor cinza e que roubam aos humores,
muita da sua candura. Contudo, não seria de apreciar todos os momentos do ano,
com igual abertura de afectos? Por que razão teimamos em não ver beleza num dia
de chuva e a atribui-la somente a dias em que as nuvens permitem ver o sol? Por
que razão não apreciamos a sazonalidade, e o caracter efémero que esta nos
oferece, dando valor, precisamente, à transitoriedade de cada época.
Os japoneses dão o nome de mono no aware à percepção de que os mais
belos momentos da vida vêm logo antes desse momento terminar. Esta aceitação
plena do estado transitório e temporal das coisas faz com que o apreço pelo eterno
não seja generalizado. O florir das cerejeiras é visto como mais belo
precisamente porque apenas ocorre na primavera, naquele momento preciso e não pela
eternidade. O mono no aware relaciona-se com os significados mais profundos e
menos evidentes das coisas, é poesia e assombro. Nesta linha de pensamento, o
final do Verão não deverá ser lamentado mas sim vivido com a alegria que deve
forrar tudo aquilo que termina.
Nem sempre isto é fácil, apesar
dos início e dos fins serem muitas vezes cíclicos, como o são, efectivamente,
as estações do ano ou o florir das árvores, na verdade muitos dos fins são irreversíveis,
não dando espaço para que a esperança actue e criando de forma indelével aquilo
que os portugueses tão bem conhecem, a saudade. A nostalgia é conotada frequentemente com a tristeza
que fica quando se perde algo que se gosta. Já dizia a Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner “Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.”
Tendo como
resposta “Isso é por causa da saudade (…) A saudade é a tristeza que
fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.”
O conceito de Mono no aware pressupõe consciência
da transitoriedade das coisas e uma apreciação acurada da sua beleza efémera
acompanhada por uma tristeza suave ou melancólica. Embora a própria beleza seja
um conceito eterno, as suas manifestações particulares são únicas e especiais,
porque não podem por si mesmas, ser preservadas ou recriadas.
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