Tinha tenra idade na primeira vez que me olhei ao espelho e
percebi que eu era muito mais do aqueles olhos que me olhavam. Quando percebi
que nunca poderia sair daquele invólucro e teria que aguentar comigo para o
resto da vida metida naqueles sentires e naqueles pensares, senti uma espécie de prisão.
Aperceber-me que, sendo eu uma criança, estava a ter este tipo de pensamentos,
confirmou-me que conviver comigo seria sempre um acto de paciência e de
introspecção e catalogou-me, em
definitivo, como alguém precoce. Seria mesmo? A minha consciência do self
teria chegado cedo em demasia ou o silêncio do que não se partilha legitima
erradamente a precipitação de julgamento? Nunca falei destas questões com
adultos, não fossem achar uma tremenda bizarria, e nunca achei ter por perto
outras crianças onde fosse fácil encaixar este assunto. Por isso este tema cresceu comigo sem que eu nunca tivesse sabido se
ocupava a média, ou se caía nas franjas da curva normal, no que diz respeito à complexidade dos pensamentos para a idade. Continuo a olhar-me ao espelho
e a ter noções idênticas às iniciadas em criança, embora num crescendo de
complexidade e de maturidade contudo assentes em bases antigas. Penso em demasia, saltando de self em self, verificando as várias perspectivas e nem sempre me decido por alguma. Acho que a este respeito serei coerente
do princípio ao fim e posso assumir que não há rugas nem envelhecimento nos
meus pensamentos e na minha forma de me sentir no mundo.
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