Já não constitui um segredo para mim o conteúdo do mais
recente livro de José Luís Peixoto (JLP). Escrito num estilo mais leve que o
seu registo habitual, o livro narra a passagem do seu autor pela Coreia do
Norte, o país mais fechado do mundo que, por isso, encerra consigo todo um
sentimento misto de curiosidade e antipatia que em muito contribui para a sua
cotação de fascínio. Habituados que estamos a ter notícias da Coreia do Norte provindas
essencialmente da comunicação social, que ainda não há muito tempo nos encheu
de imagens relacionadas com a morte do seu “Querido Líder”, ler histórias
contadas, na primeira pessoa, por quem pisou aquele território, embora o próprio
admita que a realidade que lhe mostraram foi tingida de algum fingimento, é motivo
para uma leitura cheia de interesse.
O tema é, pois, uma garantia de sucesso. À descrição da
viagem, o autor soube juntar uma, bem doseada, porção de percepções pessoais
que amenizam a dureza da realidade descrita e nos fazem rir de pormenores que só
o ser humano consegue protagonizar.
Mas eu estou certa que a maior contribuição desta viagem,
para a escrita do JLP, não ficou, de todo, restringida a este livro. Este será
porventura uma pequena demonstração da riqueza interior que esta experiência
lhe terá dado. Descreveu-o demasiado restringido aos factos, demasiado próximo
ao tempo em que tudo aconteceu. O distanciamento
mental necessário para uma abordagem mais introspectiva estará, muito
provavelmente, a fermentar. Aguardo, por isso, com expectativa, embora o
fizesse de qualquer forma, as suas próximas escritas, estando certa que nelas
conseguirei vislumbrar, de forma mais ou menos exposta, as influências despoletadas
por esta viagem que apesar de no destino ter o país mais fechado do mundo, com
certeza lhe terá aberto muitas portas do seu mundo interior.
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