Há pessoas que vivem em bolhas. Fechadas, herméticas, asfixiantes. O único ar que lá entra é aquele que lhes permite ter os pulmões incólumes. Tudo o resto é irrespirável, invisível, indiferente.
Causa-me alguma impressão esta tendência de algumas pessoas em desviar o olhar daquilo que lhes é alheio, de proclamarem a sua indiferença perante o mundo e a vida de terceiros desde que dentro do seu casulo exista o oxigénio que lhes permita viver.
Numa altura em que um a um somos chamados à realidade do desemprego, da desigualdade, da pobreza, de toda a espécie de dificuldades mais ou menos requintadas, ainda há quem somente se aperceba das maleitas do mundo, quando o seu nome é ouvido, ainda que os de muitos outros já tenham sido chamados antes. As situações só se agudizam, só são apelidadas de urgentes, só incitam à acção quando os atingem, quando sentem que a bolha vacila e o ar começa a evaporar-se por uma qualquer fresta que entretanto se instalou.
Não sei como lidar com pessoas assim. Fico sem jeito tamanha a incredulidade que me atinge, incapaz de convencer as minhas próprias palavras a chamar a atenção de algo tão óbvio, sem saber como fazer para controlar a minha vontade de lhes mostrar que o egoísmo tem limites.
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