Não gosto especialmente de ler as
coisas que escrevo. Tal como não aprecio tão intensamente a comida que faço.
Assim como não me dá especial gozo conhecer os bastidores de um filme. É como
se o facto de estar demasiadamente dentro das histórias lhes retirasse a
capacidade de me seduzir. Como se conhecer os detalhes da concepção de algo me
amputasse na capacidade de criar um imaginário interessante à volta dessa
coisa. Quase como conhecer os truques de magia. É muito mais estimulante o acto
de matutar nas ilusões criadas pelos mágicos através da sua destreza e
capacidade de fazer parecer o que não é, do que descobrir a origem dos seus
truques afastando o encantamento gerado pela sua actuação. Quando leio algo, eu
junto, às palavras de quem escreveu, a minha própria interpretação, o meu
próprio retrato da história. Se eu souber os factos por detrás das escolhas,
dos arranjos, os ingredientes de toda a receita bem como a sua forma de
confecção, a graça esvai-se e fica somente um apreciar desprovido de conteúdo.
Isto acontece-me amiúde e por isso, apesar da minha natural curiosidade gosto
de permanecer alheada da visão das filmagens de um filme assim como, apesar de
adorar escrever, não retiro o mesmo enlevo de ler algo escrito por mim. Tenho
de me afastar do cerne das histórias para que as possa verdadeiramente
apreciar.
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