photo credits: pinterest
Um almoço, para ser perfeito, não tem de ter
comida gourmet, de
ocorrer numa atmosfera cutting edge ou de
exigir uma mesa cheia de amigos (não querendo, com isto, dizer que estes sejam elementos
desprezáveis na classificação da qualidade de um almoço, uns mais do que
outros, pois claro). Na realidade, concluí que, para que um almoço possa ser
apelidado de bom, basta que esteja eu, uma brisa fresca a amenizar o efeito do
sol que se quer quente e um prato de comida saudável. O que faz a diferença, e
ajuda a compor todo o ramalhete, são os pensamentos que trago comigo para a
hora da refeição e que fazem com que um repasto solitário, se transforme numa
refeição a dois sem que o silêncio seja quebrado ou a refeição tenha de ser
dividida. Habitualmente eu consigo tal habilidade, trazendo um livro, uma
revista, ou a galeria de fotos do telemóvel. Porém, da última vez, deixei que
os pensamentos ocupassem o melhor lugar à mesa e contassem as suas histórias.
Uma vez que tinha estado a ler um artigo sobre viagens de volta ao mundo,
daquelas que fazem jus ao conceito, com direito a dedicação total e a uma
duração quase nunca inferior a um ano (sonho!), foi precisamente aí que os
pensamentos se instalaram e em posição resfolgada fizeram o que quiseram dos
meus neurónios desocupados, dando-me a conhecer tudo o que achavam acerca do
assunto. Bem, toda esta prosa para dizer que enquanto ia ingerindo a salada de mozzarella e
pesto, fui decidindo o tipo de viagem, idealizando o itinerário, calculando os
custos, e, entre garfadas, imaginei-me a explicar este desejo súbito de evasão
prolongada a um conjunto alargado de pessoas para as quais também imaginei as
mais caricatas e/ou receptivas reacções e juro que não dava pelo prato limpo
não fosse uma colega minha ter chegado e me ter colocado uma qualquer questão
que me afastou por completo do tema que estava a ser trabalhado no meu pensar.
Claro, que isto só pode ser apelidado de almoço perfeito se o
assunto em causa for dos bons, daqueles com direito a desfechos do género “Ai,
quem me dera”. Se for de outro tipo não vale a pena tentar a experiência, e
mais vale aplicar os princípios da atenção plena dedicando-se com exclusividade
a saborear a salada e os seus temperos. O que, aliás, também é interessante. “Tudo
vale a pena quando a alma não é pequena”*. E dou como exercício de relevo tudo aquilo
que implique fazer pequenas alterações de rotina nos vários momentos do dia.
Dito isto, amanhã, já levo um livro. E a estrear!
* Fernando Pessoa
Sem comentários:
Enviar um comentário