Aquilo que me inspira, levo para casa.




3.9.12

Dos semáforos e de outras paragens

Naquele momento partilhamos os minutos de espera que antecedem a mudança do sinal. Queremos o verde que nos permita dar liberdade aos nossos ímpetos. Até lá, resta-nos encarar o vermelho enquanto balançamos o corpo ao som da música emitida pela rádio ou pela selecção de mp3 que faz parte do conteúdo de coisas que jamais largamos. Um retoque no batom, uma passa no cigarro, o ajeitar do vestido. São estes os pequenos tiques que nos distraem do compasso da espera. Não nos conhecemos mas naquele momento partilhamos o espaço. Uma via de asfalto que bifurcará adiante e que (quem sabe?) nos desviará para os destinos que são os nossos. Naquele instante vivemos, sem que disso nos apercebamos, uma cumplicidade de transeunte. Tu não reparas em mim mas eu reparo que tens as unhas pintadas de um vermelho cereja (quando tirar o verniz coral que agora tenho, vou pintar dessa cor), que tens o cabelo apanhado desordenadamente e que o cigarro te acalma da pressa que levas. Eu ligo o ar condicionado e deixo que a imaginação me guie para o que será a tua vida para além desta paragem de carro. Alguém poderá estar a fazer o mesmo comigo mas eu não reparo. Reparei em ti porque divides comigo a dianteira.
O sinal abre e tu avanças.
Eu avanço também.
Sigo em frente mas tu viras à direita.
Naquele momento deixámos de partilhar a direcção.
Em breve minutos estarei no trabalho. Já não penso sequer em ti.

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