Aquilo que me inspira, levo para casa.




29.4.14

:: dia mundial da dança ::



photo credits :: Christopher Peddecord ::
       
           Ligo o som
Fecho os olhos.
Abro a mente.
Visualizo.
Escuto.
Voo.
Deixo-me fluir.
Danço.
Danço.
Danço.
Os meus pés não sentem o chão.
As minhas asas,
metafóricas,
elevam-me em pequenos saltos.
Respiro.
Sei dançar.
                A graciosidade está nos meus movimentos.
Sou feliz 
no momento em que
abro as asas.
                Quero dançar sempre assim.


                

28.4.14

:: mar ::



Mar, metade da minha alma é feita de maresia 
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia, 
Que há no vasto clamor da maré cheia, 
Que nunca nenhum bem me satisfez.
 E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia 
Mais fortes se levantam outra vez, 
Que após cada queda caminho para a vida, 
Por uma nova ilusão entontecida 

Sophia de Mello Breyner Andresen

Viver num país onde o mar sobeja e numa cidade costeira faz de mim uma pessoa grata pela região do mundo onde nasceu. Preciso que os meus olhos saibam onde podem olhar o mar para me sentir norteada. Ainda que o não veja, sabê-lo lá, e antevê-lo pela geografia que conheço de cor, é um sossego que quero por perto. Gosto de escutá-lo quando ele somente murmura enquanto abandona a sua espuma em delicadezas quase imperceptíveis, mas também me arrebato quando ele muda de voz e, de timbre grave, me oferece vagas de salgada hegemonia. O mar tem este duplo estar que o humaniza. Consegue ser manso e ondulante, galanteador e irresistível para momentos depois ser autoritário e opressivo, bravo e intimidante.   



Na verdade consigo passar horas a vê-lo brincar e a falar ao mundo na linguagem que só os outros mares conhecem. Finjo entendê-lo mas sei que jamais alcançarei o significado das variantes do seu som. A melodia que emana apazigua-me os ouvidos mas chega em agnosia ao meu cérebro a não ser que lhe dê um significado. É nesse jogo que me aprimoro sempre que me sento em frente ao mar. Atribuir sinónimos às suas cadências e aos sons que a corrente da água emite, imaginando frases e conversas completas cujo sentido é meu apesar de pode distar da intenção real das marés. Cada um interpreta o mar à sua maneira. É nesta subjectividade de o olhar e de o ouvir que reside todo o encanto desta água amantizada de sal.






21.4.14

:: assim, de repente... ::

... noto que somos todos (quase) iguais. Um conjunto de camadas que se sobrepõe deixando na sua base a mesma fórmula que se replica infinitamente. Desiguais no exterior, porém assentes em alicerces que distam uns dos outros por diferenças tão subtis quanto as da tiragem de um livro. A escassa diversidade é vantajosa para quem procura deslindar o ser humano na sua multiplicidade de perspectivas contudo encurta a originalidade, tornando-a definhada e hipocalórica. No fundo tendemos todos para o mesmo. Para o mesmíssimo ponto de aferição que, ao mínimo desequilíbrio tende a repor a ordem impedindo a escassez ou a abundância. Será a nossa banalidade uma forma de governança divina? Será a nossa excessiva semelhança um catalisador da despromoção do confronto, a configuração apropriada para instaurar preventivamente a homeostase social? Gosto de acreditar na perfeição que nos atravessa, ainda que escondida. A mesma matriz reproduzida vezes sem conta, sem que os seus consumíveis falhem, só pode indiciar que há esmero na sua criação. Acreditemos pois no empenho do autor e na sublimidade da sua obra.

17.4.14

:: felicidade e liberdade ::


A felicidade para mim mede-se em graus de liberdade ou seja, não existe sensação de felicidade se não existir liberdade no sentido de conseguir exercer em plenitude o direito de escolha.  Assim, se conseguirmos reunir na mesma equação a possibilidade de poder escolher e a capacidade para o fazer, estou convicta que a essência da felicidade nos pertence. Por isso acho que a felicidade é uma decisão, uma atitude, uma disposição perante a vida que não se resume ao bem-estar proporcionado por pequenos momentos avulsos e desconectados de um estado de espírito mais vasto e consciente. 

Se quisermos podemos ser mais felizes. Porque se a nossa liberdade é condicionada por variadíssimos factores externos que por serem incontroláveis, nos amputam irremediavelmente na capacidade de sentirmos felicidade, também é verdade que a liberdade interior é cultivada por uma forma de estar atenta e criteriosa que envolve decisões conscientes e desenvolvimento pessoal. Tudo aquilo que nos faça ganhar graus de liberdade interior está a contribuir para a felicidade pessoal sustentável. E isto significa conseguir aumentar as nossas opções de escolha a um nível que nos permita decidir de acordo com aquilo que realmente queremos e que a consciência nos dita bem como prosseguir no alinhamento de objectivos definidos para a nossa vida. 


Assim dito assumo que possa parecer demasiado fácil, uma conclusão leviana de um tema que tem tudo de complexo mas argumento dizendo que é somente um resumo do que considero ser o ponto comum a muitas das considerações que já li acerca do tema da felicidade. É certo que aumentar os graus de liberdade interior pode ser um périplo difícil de ultrapassar, um objectivo demasiado temerário para muitos, que implica demover barreiras e obstáculos difíceis. São várias as condições que nos reduzem o ângulo de liberdade interior, muitas delas oriundas da própria personalidade, da própria auto-estima e de outros factores intrínsecos. 


Trata-se portanto de um trabalho pessoal, dinamizado pelo próprio sem recurso a receitas feitas mas que requer reconhecimento daquilo que nos motiva e que nos proporciona o maior número de hipóteses de escolha. Ter flexibilidade mental para saber gerir emoções negativas, para aceitar frustrações e contrariedades, para não nos deixarmos dominar pelos medos e preconceitos, parecem-me bons exemplos de como a liberdade interior pode ser estimulada.  


A felicidade é um acto de decisão. É feita, construída, desenvolvida, regulada, melhorada e vivida. Os braços jamais se podem cruzar se a quisermos connosco e é melhor que usemos corpo e mente se a pretendermos fidelizar. 

14.4.14

Afinal, em que é que ficamos?

Há dias em que me farto daquilo que em outros dias é alvo da minha apreciação. 
Há dias em que encontro interesse naquilo que em outros dias a minha curiosidade ignora.


Onde estou eu neste conjunto de dias? 
Naqueles dias ou em todos os outros?