Aquilo que me inspira, levo para casa.




24.9.12

As conversas dos outros



No outro dia tomei o pequeno-almoço na esplanada de um café perto da minha casa. No pouco tempo em que ocupei a cadeira, enquanto sorvia a meia de leite e engolia o pão de mistura fina com queijo, deu para ouvir as conversas lançadas nas mesas do lado. Já houve tempo em que falar do tempo, dos filhos, e de outras trivialidades da vida quotidiana, ocupavam as manchetes das conversas de café. Agora os temas são outros, e sempre os mesmos. A crise, a precariedade no emprego, a falta deste. Sempre, sem tirar nem pôr, os mesmos argumentos, os mesmíssimos acontecimentos, as igualíssimas preocupações, apesar dos diferentes interlocutores. Já não há originalidade nas conversas de café quando o que nos une é um sentimento generalizado de preocupação. Os salários são debatidos à mesa, as inequidades são partilhadas enquanto se bebe a bica, o desemprego de fulano e beltrano é tema para especulações e teorias. Mudam-se os corpos e as conversas ficam. Tornámo-nos um povo de uma só conversa e abandonámos o ecletismo de temas. Tudo isto é triste e assustador. A banalização das conversas de café é um excelente indicador do estado da nação, um barómetro da saúde da sociedade. Esperemos que haja cura. 

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