Aquilo que me inspira, levo para casa.




30.12.14

O meu momento do ano


Estava um dia quente embora a chuva se fizesse prever pelas nuvens que ao longe se avistavam.  O dia mal tinha nascido e as surpresas já se amontoavam pelo quarto. Tudo preparado tendo o pormenor envolto em papel de embrulho. Algumas das surpresas foram tomadas nas mãos, outras avistadas a quilómetros de distância.  (O simbolismo do amor encontra-se retratado nos detalhes dos amantes).

O pequeno-almoço foi tomado no pequeno pátio de chão de madeira e paredes de hera. As manhãs de verão são especialmente convidativas para iniciar descontraidamente qualquer conversa. Falámos de muitas coisas sem que o tom de contentamento se desvanecesse, ouvimos palavras vindas de outras bocas, com sotaques de outras terras, mas nada roubou o significado às nossas promessas. (A plenitude da atenção alcança-se pelo quanto se ama quem nos escuta).

Quando saímos, o dia cheirava a cumplicidade e a festejo. Foram horas a passear sem mapa por ruas desconhecidas, o acaso a guiar-nos os passos, a curiosidade a envolver cada decisão. Os dias que são deixados sem orientação e sem tempo, são aqueles que crescem por si mesmos e que nos devolvem mais o que recordar. O Danúbio, acenava-nos sempre que os nossos olhos se cruzavam com as suas águas. As pontes insistiam para que as cruzássemos. Ora cá ora lá entre Buda e Peste. (É tão fácil ser feliz quando a serenidade nos aconchega e nos deixamos maravilhar pelo desconhecido que se mostra afectuoso). 

O calor da tarde ditou a paragem numa esplanada e uma limonada bem fresca foi a receita para uma sede que exigia líquidos. A musica soava ao longe, algumas gargalhadas toavam de perto, dando à atmosfera um ambiente alegre e contemporâneo. A conversa uma vez mais se juntou connosco à mesa, e ali ficámos os três, perdendo o tempo de vista até o entardecer espreitar e sentirmos que tínhamos de ir embora, para qualquer outro lugar que nos recebesse de forma igualmente bela. O corpo perde o peso para o doar à alma quando nos encontramos agraciados.   (A leveza do corpo é tão mais sustentável quanto for o peso que soubermos dar à alma, insuflando-a de júbilo e de reconhecimento pelos momentos que se movem para sempre em nós).

Se tivesse que escolher o momento mais memorável do meu ano de 2014, seria esta tarde na esplanada junto ao Danúbio, dividindo a minha atenção entre mimos e uma bebida fresca, sentindo uma leveza que me permitia voar para onde as nossas conversas fluíssem e sentindo-me grata por simplesmente estar ali. (A felicidade pode, afinal, ser tão simples)!

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