Aquilo que me inspira, levo para casa.




13.1.14

:: acordares ::

#1
Acordo com o som que a rua me oferece. Palavras soltas voam com o vento e colam-se à minha janela. O som longínquo aproxima-se até me abrir os olhos (…3…,2…,1…). Tenho somente como companhia o beijo que me deste. A pouca luz que atravessa as frinchas da janela perde-se algures nas paredes brancas do quarto. Levanto-me e deixo que o frio me empurre até ao local onde a pele sentirá a água de um banho quente. Estou algures entre a minha pele e a água que me entorpece. Encontro-me novamente quando fecho a torneira. Volto ao quarto e encho-o de música. A banda sonora é condizente com o meu algoritmo emocional. “I was trying to sleep when everyone woke up” revela-se perfeita. Abro um livro na página onde o deixei e retomo a sua leitura em baixas rotações. Poucas páginas bastam para que o largue. O tempo ganha força desde o momento em que dou por ele. Dirijo-me à cozinha imaginando que me espera a mesa posta com um pequeno-almoço igual ao das fotografias que abundam na internet. A ilusão exibe-se pela ausência de qualquer aroma denunciador. Sorrio para a minha ingenuidade e saio de casa trazendo o livro na mala. Tomo café na esplanada e a natureza encarrega-se de me pôr a mesa. Fico e deixo que a força do tempo se amenize. Resisto a pressas e aproveito o momento meu.


#2
Acordo minutos antes do despertador. A luz é fraca mas percebo que já é dia por detrás da janela. Há carros que passam e apitam sem se preocupar que há sonos que ocupam a rua. Quando o despertador se liga, o quarto enche-se de vozes da rádio que, àquela hora, apenas me soam a poluição. A custo abandono a minha almofada e estico o corpo. As pernas verticalizam e os pés percorrem o caminho, que sabem de cor, até aos chinelos. Enquanto caminho até ao chuveiro, os olhos teimam em querer estar cerrados. Somente a água é imperativa o suficiente para os manter abertos enquanto o cérebro desperta em definitivo. O dia começa quando a pele sente que está viva. Planeio o dia, penso no que ficou do dia anterior e no que não poderá ficar no dia que começa. Quando a torneira se fecha os pensamentos não deixam espaço para mais do que movimentos automáticos. Uma cadência de actividades dita a forma como aproveito o tempo até que a porta de casa se fecha. O trânsito espera-me e eu conduzo o meu carro e o meu corpo ao encontro da mesa de trabalho. O tempo não pára mas está controlado. Nesse momento, no carro, a música torna-se bálsamo e o carro enche-se de som. O momento é meu.

Sem comentários:

Enviar um comentário