Aquilo que me inspira, levo para casa.




24.6.14

:: a graça das coisas ::

Não gosto especialmente de ler as coisas que escrevo. Tal como não aprecio tão intensamente a comida que faço. Assim como não me dá especial gozo conhecer os bastidores de um filme. É como se o facto de estar demasiadamente dentro das histórias lhes retirasse a capacidade de me seduzir. Como se conhecer os detalhes da concepção de algo me amputasse na capacidade de criar um imaginário interessante à volta dessa coisa. Quase como conhecer os truques de magia. É muito mais estimulante o acto de matutar nas ilusões criadas pelos mágicos através da sua destreza e capacidade de fazer parecer o que não é, do que descobrir a origem dos seus truques afastando o encantamento gerado pela sua actuação. Quando leio algo, eu junto, às palavras de quem escreveu, a minha própria interpretação, o meu próprio retrato da história. Se eu souber os factos por detrás das escolhas, dos arranjos, os ingredientes de toda a receita bem como a sua forma de confecção, a graça esvai-se e fica somente um apreciar desprovido de conteúdo. Isto acontece-me amiúde e por isso, apesar da minha natural curiosidade gosto de permanecer alheada da visão das filmagens de um filme assim como, apesar de adorar escrever, não retiro o mesmo enlevo de ler algo escrito por mim. Tenho de me afastar do cerne das histórias para que as possa verdadeiramente apreciar. 

Sem comentários:

Enviar um comentário