Aquilo que me inspira, levo para casa.




3.9.14

:: almoços perfeitos ::

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Um almoço, para ser perfeito, não tem de ter comida gourmet, de ocorrer numa atmosfera cutting edge ou de exigir uma mesa cheia de amigos (não querendo, com isto, dizer que estes sejam elementos desprezáveis na classificação da qualidade de um almoço, uns mais do que outros, pois claro). Na realidade, concluí que, para que um almoço possa ser apelidado de bom, basta que esteja eu, uma brisa fresca a amenizar o efeito do sol que se quer quente e um prato de comida saudável. O que faz a diferença, e ajuda a compor todo o ramalhete, são os pensamentos que trago comigo para a hora da refeição e que fazem com que um repasto solitário, se transforme numa refeição a dois sem que o silêncio seja quebrado ou a refeição tenha de ser dividida. Habitualmente eu consigo tal habilidade, trazendo um livro, uma revista, ou a galeria de fotos do telemóvel. Porém, da última vez, deixei que os pensamentos ocupassem o melhor lugar à mesa e contassem as suas histórias. Uma vez que tinha estado a ler um artigo sobre viagens de volta ao mundo, daquelas que fazem jus ao conceito, com direito a dedicação total e a uma duração quase nunca inferior a um ano (sonho!), foi precisamente aí que os pensamentos se instalaram e em posição resfolgada fizeram o que quiseram dos meus neurónios desocupados, dando-me a conhecer tudo o que achavam acerca do assunto. Bem, toda esta prosa para dizer que enquanto ia ingerindo a salada de mozzarella e pesto, fui decidindo o tipo de viagem, idealizando o itinerário, calculando os custos, e, entre garfadas, imaginei-me a explicar este desejo súbito de evasão prolongada a um conjunto alargado de pessoas para as quais também imaginei as mais caricatas e/ou receptivas reacções e juro que não dava pelo prato limpo não fosse uma colega minha ter chegado e me ter colocado uma qualquer questão que me afastou por completo do tema que estava a ser trabalhado no meu pensar.   Claro, que isto só pode ser apelidado de almoço perfeito se o assunto em causa for dos bons, daqueles com direito a desfechos do género “Ai, quem me dera”. Se for de outro tipo não vale a pena tentar a experiência, e mais vale aplicar os princípios da atenção plena dedicando-se com exclusividade a saborear a salada e os seus temperos. O que, aliás, também é interessante. “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”*. E dou como exercício de relevo tudo aquilo que implique fazer pequenas alterações de rotina nos vários momentos do dia. Dito isto, amanhã, já levo um livro. E a estrear!

* Fernando Pessoa

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