Aquilo que me inspira, levo para casa.




4.11.14

E se não existissem espelhos?


Tinha tenra idade na primeira vez que me olhei ao espelho e percebi que eu era muito mais do aqueles olhos que me olhavam. Quando percebi que nunca poderia sair daquele invólucro e teria que aguentar comigo para o resto da vida metida naqueles sentires e naqueles pensares,  senti uma espécie de prisão. Aperceber-me que, sendo eu uma criança, estava a ter este tipo de pensamentos, confirmou-me que conviver comigo seria sempre um acto de paciência e de introspecção e  catalogou-me, em definitivo, como alguém precoce. Seria mesmo? A minha consciência do self teria chegado cedo em demasia ou o silêncio do que não se partilha legitima erradamente a precipitação de julgamento? Nunca falei destas questões com adultos, não fossem achar uma tremenda bizarria, e nunca achei ter por perto outras crianças onde fosse fácil encaixar este assunto. Por isso este tema cresceu comigo sem que eu nunca tivesse sabido se ocupava a média, ou se caía nas franjas da curva normal, no que diz respeito à complexidade dos pensamentos para a idade.  Continuo a olhar-me ao espelho e a ter noções idênticas às iniciadas em criança, embora num crescendo de complexidade e de maturidade contudo assentes em bases antigas. Penso em demasia, saltando de self em self, verificando as várias perspectivas e nem sempre me decido por alguma. Acho que a este respeito serei coerente do princípio ao fim e posso assumir que não há rugas nem envelhecimento nos meus pensamentos e na minha forma de me sentir no mundo. 





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