Aquilo que me inspira, levo para casa.




25.6.15

Conversas de insónia



Acho que nada nos torna tão vulneráveis como o acto de dormir. A necessidade de dormir mostra que apesar de todo o nosso poder enquanto animais dotados de inteligência sucumbe perante a necessidade de parar para repor as necessidades de um corpo falível. Tal qual como qualquer máquina e o seu computador central. Ter de dormir fragiliza-nos de certa forma, principalmente quando não o fazemos. Não dormir torna-nos em verdadeiros autómatos, longe de pensamentos construtivos, de emoções afinadas, de uma vida sustentável. E isto é assustador quando as noites de insónia fazem parte de um estado que te contraria enquanto ser que, apesar de humano, tem a este respeito, tratamento de máquina, apesar de fazerem também parte da tua forma de ser enquanto ser humano de personalidade própria. Mas que cérebros são estes que se desocupam de dormir sabendo que a insónia os molestará ao mostrar-lhes que a sua força sucumbe perante a ausência de onirismo. Sei que o cérebro fala por uma série de códigos nem sempre fáceis de perceber e que se a estes se somam pouca aptidão para reagir a conversas, temos um diálogo repleto de mudez, e isso torna ainda mais difícil fazer da insónia a hipersónia que somente apetece.


Dormir pode ser maravilhoso e martirizante, um bálsamo ou uma angústia, mas o corpo precisa que apaguemos os sentidos independentemente dos sentimentos que detemos perante esta função orgânica (só este nome parece que nos desumaniza).  Dormir deveria ser apenas um acto hedónico, sem imposição corporal, sem termos de estar deitados de olhos fechados enquanto o sol escondido nos afasta da luz, corpos abandonados em cima de colchões (na melhor das hipóteses) à espera que as ligações cerebrais se recomponham para que, horas depois, tudo funcione normalmente.  Parece estranho, pouco glamoroso, demasiado contundente. 

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