Aquilo que me inspira, levo para casa.




23.9.15

Mono no aware ou a nostalgia japonesa


Acabou o Verão e geralmente este é o momento do ano em que a passagem de estação nos causa maior impacto, apesar do Outono ser também prezado por muitos. O Inverno é a estação menos desejada e traduzível por dias pequenos, chuvosos, de cor cinza e que roubam aos humores, muita da sua candura. Contudo, não seria de apreciar todos os momentos do ano, com igual abertura de afectos? Por que razão teimamos em não ver beleza num dia de chuva e a atribui-la somente a dias em que as nuvens permitem ver o sol? Por que razão não apreciamos a sazonalidade, e o caracter efémero que esta nos oferece, dando valor, precisamente, à transitoriedade de cada época.

Os japoneses dão o nome de mono no aware à percepção de que os mais belos momentos da vida vêm logo antes desse momento terminar. Esta aceitação plena do estado transitório e temporal das coisas faz com que o apreço pelo eterno não seja generalizado. O florir das cerejeiras é visto como mais belo precisamente porque apenas ocorre na primavera, naquele momento preciso e não pela eternidade.  O mono no aware relaciona-se com os significados mais profundos e menos evidentes das coisas, é poesia e assombro. Nesta linha de pensamento, o final do Verão não deverá ser lamentado mas sim vivido com a alegria que deve forrar tudo aquilo que termina.

Nem sempre isto é fácil, apesar dos início e dos fins serem muitas vezes cíclicos, como o são, efectivamente, as estações do ano ou o florir das árvores, na verdade muitos dos fins são irreversíveis, não dando espaço para que a esperança actue e criando de forma indelével aquilo que os portugueses tão bem conhecem, a saudade.  A nostalgia é conotada frequentemente com a tristeza que fica quando se perde algo que se gosta. Já dizia a Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner “Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.Tendo como resposta “Isso é por causa da saudade (…) A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.”

O conceito de Mono no aware pressupõe consciência da transitoriedade das coisas e uma apreciação acurada da sua beleza efémera acompanhada por uma tristeza suave ou melancólica. Embora a própria beleza seja um conceito eterno, as suas manifestações particulares são únicas e especiais, porque não podem por si mesmas, ser preservadas ou recriadas.

Gosto de pensar que a tristeza da despedida de algo pode ser compensada pela beleza que esse algo nos proporcionou e que por isso, cada momento é eterno na saudade que deixa e deve ser vivido com consciência de que, ao acabar, só nos restará a saudade de ter sido vivido em pleno. 

Sem comentários:

Enviar um comentário