Photo credits :: aisha.yusaf
Olho para a janela e vejo chuva. Penso
em música e ligo o rádio mas são as mesmas vozes que intercalam as mesmíssimas playlists.
Opto por ouvir online e recorro à minha própria selecção musical. O pequeno-almoço
chega sem imaginação, não houve tempo para a dedicação que esta refeição me
merece (quem me dera poder alimentar-me de poesia!). No email chegam em catadupa mensagens de
resposta. Depois de lidas e arquivadas seguem para o relatório que me encontro
a produzir e que já vai longo. Uma
visita rápida às notícias do dia, fazem-me perceber que os temas não diferem
muito dos do dia anterior. As más notícias mantêm-se. As boas têm, cada vez mais, uma quota reduzida nos noticiários.
Olho para a janela e vejo chuva.
Apetece-me um café e trato disso. Sorvo-o na minha secretária, imaginando-o a
ser bebido em qualquer outro lugar digno de ser contado. Dou uma vista de olhos
pelo instagram. Pequenos-almoços
deliciosos abundam nas galerias de imagem e fazem-me lembrar que um dia serei
assim, a fazer somente “bom e bonito”. Regresso
ao computador e numa mescla de letras e números, faço o trabalho que me compete
e ainda acrescento mais qualquer coisa.
Olho para a janela e a chuva
continua a cair. Traços oblíquos atravessam a minha janela e conservam o ar
cinzento, sem graça, das horas que passam. O conservadorismo tomou conta destes
dias de inverno. Há chuva lá fora mas há secura nas fontes de conversa. Procuro,
como sempre o faço, inspirar-me com aquilo que me motiva mas já não aguento os
espirros e as bebidas quentes servidos à mesma refeição. Já não suporto baralhar
as cartas e voltar a dar o mesmo, mudar a ordem dos factores e chegar ao mesmo
resultado (de repente surge-me à memória as propriedades da multiplicação!). No
mesmo dia há enfado e a tentativa de desfazer os seus nós. Dói-me o corpo e a alma
está apertada. Tenho novelos de confusão por entre os pensamentos mas as mãos
não me chegam para os agarrar e deitar fora.
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