Aquilo que me inspira, levo para casa.




5.3.14

:: quente no Frio ::


Faz frio lá fora. Começa por ser do vento e da chuva miudinha que enfeita a paisagem. Termina vindo da neve que forra a branco todo o panorama visível através das janelas. Do lado de dentro dos vidros sente-se calor. Começa por ser do conforto oferecido por um hotel que tem nome e ambiente de casa, mas é aumentado pela troca de conversas entre amigos que se juntam. O frio de fora não se sente. Mesmo quando estamos na neve e a água nos encharca os fatos. Mesmo quando a chuva teima em ser tão companheira como qualquer um de nós. O frio é abafado pelo calor que emana dos risos evaporados e das palavras que se deixam transportar pelos átomos de uma atmosfera cálida.

Há muitos anos que não ia à Serra da Estrela porque a associação directa ao frio, me fazia temer um desconforto constante, porque a ideia de neve e de monocromia de cores na paisagem, me era tolerável somente nos postais e nas fotos dos outros. Sempre fui de sol e pouco dada a neve. Mas, ingenuidade minha, menosprezei o papel que um grupo de amigos, a partilhar roteiros e mesas de refeição, podem fazer por atenuar todo o possível desaconchego. Esqueci-me de colocar na equação o papel preponderante de uma boa conversa, de um pequeno-almoço tomado em cadência lenta, do respeito pelos hábitos e pelos ritmos de cada um, da partilha e principalmente da cumplicidade (esse conceito tão difícil de explicar e que é dos melhores que a natureza humana nos oferece).

Esqueci-me também que uma montanha com neve nos faz regressar ao mais pueril dos imaginários, aos sonhos quiméricos de contos de fadas, ao desejo constante de trazer connosco todos os pedaços de árvores, pedras, estradas, arbustos que se deixaram tapar por um manto de uma só cor. Esqueci-me imediatamente do frio quando o verde se envergonhou e me ofereceu a alvura somente contrastada com as cores alegres dos fatos daqueles que fabricavam bonecos de neve.

E depois há os locais de magnífico acolhimento, de serviço irrepreensível onde os mimos existem sem que por eles se pague, num acto genuíno de verdadeira hospitalidade. Locais bonitos, confortáveis, aos quais nos apegamos no primeiro momento porque nos sentimos verdadeiramente em casa. A Casa das Penhas Douradas está a 1500 metros de altitude mas fica bem perto do âmago de quem a visita, disso não tenho qualquer dúvida.  São os detalhes que fazem a vida tolerável. O quente e o frio só existem na proporção do valor que lhes damos, na experiência que de ambos retiramos.













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