Aquilo que me inspira, levo para casa.




21.10.14

No dia em que nasci






"Parece que nasci hoje. É Verão e quem me segura ao colo, nestes dias longos de um sol bonito, é uma mulher de olhos em forma de amêndoa e com cor das azeitonas que abundam no nosso olival. Sei que nasci ontem porque do mundo nada entendo além de pequenos fragmentos de som e de sabor que me chegam e me tocam aligeirando-me o choro. Recebo embalos de muitas mãos e beijos em demasia mas o colo da mulher dos olhos verde oliva é, em definitivo, o meu preferido e logo aí sinto que o será sempre.  Só recordarei este dia pelas histórias de outros e jamais pela primeira pessoa por isso inconscientemente guardo os afectos nos arrumos da memória que permanecerão sempre entreabertos. Há calor ao meu redor e isso fará com que sempre prefira o tempo quente. Os olhos da minha mãe serão sempre o meu tipo de olhos preferidos embora, por ironia, talvez a primeira da minha vida, nunca venha a apreciar o fruto que lhes confere a cor. Quanto ao resto do mundo, pouco me importa neste dia após o meu nascimento. Há uma díade que é tudo e a vinculação com os outros só começará quando permitir que o meu espaço seja corrompido pelos bons afectos de quem me quer bem. "


Escrito no dia em que fiz anos.





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