Aquilo que me inspira, levo para casa.




20.10.14

Os livros são de quem os lê, as palavras são de quem as escreve

Todos os dias folheio as páginas de um livro. Não me restam dúvidas de que as letras são os maiores catalisadores da massa cinzenta que me ocupa o cérebro. As letras impressas e todas aquelas que, mesmo não as vendo, imagino através das imagens que absorvo nas minhas fontes diárias de inspiração visual. Escreve-se bem em Portugal. No resto do mundo também, claro, mas interessa-me o país que me concebeu a mim e a todos aqueles pelos quais me envaideço cada vez que leio o que projectam nas suas narrativas. Pergunto-me como é que a mesma realidade consegue ser descrita de formas tão ímpares em que as palavras se distribuem indo ao encontro do significado perfeito. Acontece-me, por vezes, ficar presa a uma frase. Os meus olhos continuam a ler, mas a mente ficou parada na frase que me inspirou. Palavras simples que constroem ideias complexas e interessantes. Os escritores são arquitectos de frases. E basta-me ler uma para perceber se estou perante um arquitecto ou alguém que arruma frases sem saber os cálculos para a verdadeira construção.

Todos os dias leio as páginas de um livro. São milhares os caracteres que me atordoam. Admiro em demasia quem transcreve para letras aquilo que se sente no interior. Os escritores são tradutores de acções e de sentimentos. Traduzem para quem quer ler, aquilo que de outra forma não se conheceria e basta-me uma frase para perceber se estou perante um tradutor ou alguém que agarrado a banalidades descreve algo que pertence à linguagem comum.


Podia dizer tanto do bem que se escreve em Portugal. Dos poetas, artistas, filósofos, loucos, e de todas as múltiplas personalidades que cada escritor encarna para que delas possa retirar a essência para o que escreve. Não se escreve com esforço mas com uma agilidade inata, fazendo uso devido das próprias potencialidades. E eu gosto cada vez mais de absorver os conteúdos e as formas que compõem uma obra, de observar, com as ferramentas possíveis a um leitor, a capacidade de criar algo que extravasa aquilo que se conhece. Quanto mais se lê mais se percebe que um livro é um todo, uma entidade holística que encerra em si um conjunto de atributos que vão muito para além da mera história que contam. À medida que as minhas estantes se enchem, mais rica me sinto por conseguir consumir um livro sem me cingir unicamente ao que deduz pela sua sinopse, acompanhando o bailado de todas as suas partes sem perder nenhum acto, porque os escritores, para além de tudo o que já mencionei, também são coreógrafos.

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